terça-feira, fevereiro 23, 2021

NÃO SEI ~ NO SÉ

 


não sei
se choveu
pranto

ou se chorei
chuva

putas estas emoções
que me tornam humano

***

no sé
si llovió
llanto

o si lloré
lluvia

putas estas emociones
que me vuelven humano

© Frantz Ferentz, 2021


quinta-feira, fevereiro 18, 2021

VOU EMBORA ~ ME VOY

 



sim 

vou embora
nu da velha língua exiliada 
surdo de vogais cadentes
seco das letras que outrora
me confinaram e afinaram 

vou 
para esta outra língua seca
áspera 
pronunciável 
talvez errada
vou lá sem rancores
em singular
fingindo esquecer
todas as sílabas
sem chorar 
não seja
que a velha língua exiliada
ressuscite

* * *

sí 
me voy
desnudo de la vieja lengua exiliada
sordo de vocales cadentes
seco de letras que otrora
me confinaron y afinaron 

voy 
para esta otra lengua seca
áspera 
pronunciable 
tal vez equivocada
allá voy sin rencores
en singular
fingiendo olvidar
todas las sílabas
sin llorar 
no sea
que la vieja lengua exiliada
resucite

© Frantz Ferentz, 2021

GRAMÁTICA SILENCIOSA

 


gosto da tua gramática
silenciosa
da tua sintaxe
imprevisível
de como nomeias as coisas
quase sem querer
até as acariciares com a língua


gosto das tuas curvas
de entoação
a começarem no teu lábio turgente            
e a terminarem no teu umbigo
e um "ai" quase impercetível
que reinventa qualquer idioma
que te escorregue
pela boca


***

me gusta tu gramática
silenciosa
de tu sintaxis
imprevisible
de como nombras las cosas
casi sin querer
hasta acariciarlas con la lengua


me gustan tus curvas
de entonación             
que empieza en tu labio turgente            
y termina en tu ombligo
y un "ay" casi imperceptible
que reinventa cualquer idioma
que se deslice
por tu boca

© Frantz Ferentz, 2021

quarta-feira, fevereiro 17, 2021

HABITAR GÁRGULAS ~ HABITAR GÁRGOLAS

 









há já tempo
que não habito gárgulas

gostava delas
mas parece que se extinguiram

dizem que fevereiro já trouxe
a flor do amendoeiro
mas sabes se elas são virgens como aparentam
ou são ainda publicidade encoberta
que incita à harmonia?

gárgulas
quero gárgulas
e não flores de amendoeiro

***

hace ya tiempo
que no habito gárgolas

me gustaban
pero parece que se extinguieron

dicen que febrero ya trajo
la flor del almendro
mas sabes si ellas son vírgenes como aparentan
o siguen siendo publicidad encubierta
que incita a la armonía?

gárgolas
quiero gárgolas
y no flores de almendro

© Frantz Ferentz, 2021

quinta-feira, fevereiro 11, 2021

NÃO É QUESTÃO DE TRISTEZAS ~ NO ES CUESTIÓN DE TRISTEZAS

 



não é questão de tristezas
nem de reclamações do ego
nem sequer de falsas gárgulas
ou de bandulhos adoradores dos antigos deuses

deveria ter compreendido
há muito tempo
que no passado já era futuro
e no futuro serei um morto irónico
com sabor a cerveja e a mocidade

não é questão de ser
porque ser sou
mas de ser sendo e sem linearidade
caí na armadilha

deixai-me berrar por uma vez
e chamar de filhos da puta aos filhos da puta
relaxa
            sim
embora não me ressuscite

***

no es cuestión de tristezas
ni de reclamaciones del ego
ni siquiera de falsas gárgolas
o de barrigas adoradoras de los antiguos dioses

debería haber entendido
hace mucho tiempo
que en el pasado ya era futuro
y en el futuro seré un muerto irónico
con sabor a cerveza y a mocedad

no es cuestión de ser
porque ser soy
sino de ser siendo y sin linealidad
caí en la trampa

dejadme pues berrar por una vez
y llamar hijos de puta a los hijos de puta
relaja
            sí
aunque no me resucite

© Frantz Ferentz, 2021

segunda-feira, fevereiro 08, 2021

GOSTO DE TI ~ ME GUSTAS

gosto de ti
caótica
etérea
mãe de bocas
falante de garrafas
inabarcável

gosto de ti
revolução de cabelo
de dição
pronta a cuspir
versos no rosto dos incrédulos
que pedem mão dura
mas que de ti
recebem insubmissão

gosto de ti
calada
porque és
ainda mais eloquente

***

me gustas
caótica 
etérea
madre de bocas
hablante de botellas
inabarcable

me gustas
revoluión en el cabello 
de dicción
lista para escupir
versos en el rostro de los incrédulos
que piden mano dura
mas que de vos
reciben insumisión

me gustas
callada
porque eres
aún más elocuente

© Frantz Ferentz, 2021

UMA DEUSA ~ UNA DIOSA


preciso de uma deusa
uma de cabelo infinito
e olhos fechados

disseram-me que esgotaram as deusas
houve muita demanda
mas a deusa que eu quero
tem de ser única
quente e silenciosa
de pele descarada
e possível de pronunciar

preciso de uma deusa gárgula
que esqueça o meu nome a cada noite
e não me malgaste
acariciando planetas

***

necesito una diosa
una de cabello infinito
y ojos cerrados

me dijeron que se agotaron las diosas
hubo mucha demanda
mas la diosa que yo quiero
ha de ser única
cálida y silenciosa
de piel descarada
y posible de pronunciar

necesito una diosa gárgola
que olvide mi nome cada noche
y no me malgaste
acariciando planetas

© Frantz Ferentz, 2021

ESTAMOS FEITOS ~ ESTAMOS HECHOS

 


estás
estou
estamos
feitos de tristezas

sorrimos muscularmente
e pintamos luares no rosto
próprio e alheio
para ficarmos à sombra

és
sou
somos
uma feliz anomalia

***

estás
estoy
estamos
hechos de tristeza

sonreímos muscularmente
y pintamos luz de luna en el rostro
propio y ajeno
para quedarnos a la sombra

eres
soy
somos
una feliz anomalía

© Frantz Ferentz, 2021

O MAIOR PROSTÍBULO ~ EL MAYOR BURDEL

 

durante semanas
escreveram-me todas as putas
boémias

deixavam uma ligação
para eu as visitar
virtualmente

durante semanas
o meu correio era um prostíbulo
e eu o rei
da indiferença

tanto nome bonito
tantos bits truncados
tanta porcaria de merda
de putas que fingem existir

durante semanas
recebi oito convites diários
para desfornicar
sem atravessar a ponte de Carlos
nem ouvir jazz em Praga

até que um dia
as mensagens cessaram
se calhar apagaram
as putas boémias
ou eu matei os prostíbulos
de indiferença

seja como for
ficam tantos putos por aí fora
que nem preciso de convites
para decifrar
a sua inexistência

***

durante semanas
me escribieron todas las putas
bohemias

dejaban un enlace
para que las visitase
virtualmente

durante semanas
mi correo era un prostíbulo
y yo el rey
de la indiferencia

tanto nombre bonito
tantos bits truncados
tanta porquería de mierda
de putas que fingen existir

durante semanas
recibí ocho invitaciones diarias
para desfornicar 
sin cruzar el puente de Carlos
ni oír jazz en Praga

hasta que un día
los mensajes cesaron
quizá se borraron
las putas bohemias
o yo maté los prostíbulos 
de indiferencia

sea como fuere
quedan tantos putos por ahí fuera
que ni necesito invitaciones
para descifrar
su inexistencia

© Frantz Ferentz, 2021

Leitura do poema por Elisabeth Morão.



VOLTOU A NEVAR ~ VOLVIÓ A NEVAR


voltou a nevar
dizem que 
com esta música tribalista
a neve dança

debruço-me
se por acaso
tu lá fora nevasses
até estenderia a mão
para mais uma vez
incógnito
pronunciar-te

voltou a nevar
numa língua
que desconheço

***

volvió a nevar
dicen que 
con esta música tribalista
la nieve baila

me asomo
por si acaso
hí fuera vos nevases
hasta extendería la mano
para aún una vez
de incógnito
pronunciarte

volvió a nevar
en una lengua
que desconozco

© Frantz Ferentz, 2021

CANCELAÇÃO ~ CANCELACIÓN


fui cancelado

se ainda por cá me veem
é porque os rastos ficam
e até podem berrar

mas fui cancelado!

não olheis mais nas palmas da mão
nem de soslaio para os espelhos
lá não estou
não estou em parte nenhuma

ou sim?
por acaso não fui cancelado?

apagastes-me bem?
tendes certeza de ter pronunciado
todos os rituais para eu não ser?

temei-me
temei-me
que ressuscito

***

me borraron

si aún por aquí me ven
es solo porque quedan rastros
y hasta pueden gritar

¡pero si me borraron!

no miréis más las palmas de las manos
ni de soslayo para los espejos
ahí no estoy
no estoy en ninguna parte

¿o tal vez sí?
¿pero es que no me borraron?

¿me habéis borrado bien?
¿estáis seguros de haber pronunciado
todos los rituales para que yo no sea?

temedme
temedme
que resucito

© Frantz Ferentz, 2021