sexta-feira, janeiro 22, 2010

Aconteceu que foi inverno.- XFC

Wintertime means time to look through the window. Coffee then becomes a good friend, maybe the only one. Coffee usually brings inspiration and remembrances.
_______________________________________________

I


o silêncio
sempre o silêncio
a replicar
na gorja
como um déspota

esta manhã
nem és rua
nem és alva

silêncio

descalça


II


retorno dum exílio
impreciso

um exílio
de mim mesmo

de manhã
para partir
rua avante

num círculo
de marés que me matam
e ressuscitam

e de tarde
perder o nome
outra vez

esse
que às vezes
nem lembro


III

não estás

a tua silueta
ainda aconchega
na minha consciência

não estás

vais embora
com o sabor
do café às escondidas

não estás

até a tristeza
hoje
me acarinha


IV

a rua repite
silêncios

tenho-os tão ouvidos

silêncios
de nome partido

rochas baixo a língua
a ferver

mais
e mais
ausência


V

se tiver
bússolas
procuraria
teus dedos

tentaria
matar este inverno
descendo
a tua olhada

e de repente
janeiro
que nem aboia
no anel
do fundo
do café


VI

tardes de sábado
sem areias
onde deixar
sílabas
estreladas

inverno em infância
lento
sem lumes esta vez
onde pôr
teu nome a aquecer
mais uma vez

VII

pele
de deusa

o inferno
está tecido do teu silêncio

por que tanto lembrar-te...

VIII

fugiu espido
o telefone

nem um adeus furtivo

nada

parecia que temesse
que eu quisesse perceber os seus olhos

talvez ainda
amanheça morto

como uma praia
farrapenta de trevas
    uma vez
que também
esqueceu despedidas

© Xavier Frías Conde
All rights reserved worlwide

Penúltima llamada .- Xavier Frías Conde

Overnight poems. Maybe poetry becomes a sign of paranoia when being born so late. No need to imagine, words are now out of control. However, words can also cause insanity... or perhaps they are insane themselves.

________________________________________________

1

el termómetro
arremete
    llegan
ansiosos
equipos sin rescate

cuánta noche
aún por descifrar

y tu nombre...
tu nombre
quizás
alentando
abismos de olvido

tu silencio
me desteje
las entrañas

2

diásporas
piel abajo
hasta la nada

3

me jode
este silencio
de un viejo eco
aburrido
por calles
meditabundas

4

la calle de las camelias
es ya una imagen
en una pantalla
que antaño fue ojos

réplicas
de temblores

me tienta la brisa
blanca

5

lloré
porque condensaste
veinte eternidades
en un segundo...

no
    espera
fueron veinte leguas
de musgos
dilapidados

lloré
porque es costumbre
recordarte
con la noche
aferrada a las uñas


6

a veces me pregunto
por el tono de tu pelo
y el sabor de tu mirada

que sepas
que tus ausencias
son las más lánguidas

que tu silencio
es una mortaja
que procuro empapar de locura
o emborrachar

me oyes?

finges...

mas como siempre
inventas silencios
hasta embriagarme
de tristeza

© Xavier Frías Conde
All rights reserved worlwide

domingo, janeiro 10, 2010

52 haikus.- Xavier Frias Conde

These haikus were originally written in Portuguese between 2001 and 2004. Now they are offered together with an English version. Four of these haikus were also published somewhere else in a Galician-Spanish version

_______________________________________________________


1
 

perguntar-te
pelo caminho caminho
que nos sorria

asking you
about the path, path
smiling at us
 

2

   
doente o oeste
trás do ocaso
são-nos gaivotas de visita

ill the west
beyond the sunset
they are visiting seagulls

 

3


 
beijar-te
como anjo irreverente
de mel e algodão

 kissing you
as an unpolite angel
of honey and cotton

 

4
     
queria ser gente
ainda mais gente
esparzindo ternura

(s)he wanted to be people
even more people
spreading tendereness around
 

5
 
 
uma coisa é
doce e calada
trás do silêncio mais terno

one thing is
sweet and silent
behind the most tender silence

    

6

 
deitada
junto dos lençois em paisagem
teces orgasmos

lying down
by the bedsheet as a country
you weave orgasms

 

7
 
 
tu, cidade agarimosa,
todo o eterno
namorado

you, cuddly city,
all the eternal
in love

 

8

   
afortunadamente
existe o eco
contra tanta soidade

fortunately
the echo exists
against such a loneliness
 

9
 
 
a tua língua
foi, por brisa,
rebelião de borboletas

your tongue
was, for a breeze,
rebelion of butterflies



10

   
soavas a fogaça
nunca feita
quando húmida gemias

you sounded like bread
never ended
when you groaned wet




11

 
o velho carro
ainda range
teus silêncios e ausências

the old car
still echoes
your silence and absence
 


12
 
 
outono lento
de brise e pele
e sorriso impaciente

slow autumn
of breeze and skin
and impatient smile

 

13

  
vestem a escuridade
de silêncio,
é isso liberdade?

they dress darkness up
with silence,
is that freedom?

 

14


ladridos de cão à alva
tornam-me
na tua peça de caça

dogs’ barking at dawn
make me
your hunting prey

 

15


 
a luz dos farois
mendiga noturna
tua suave sombra

the light of the street lamps
begging nightly for
your soft shadow

16

  
algum dia
vou pintar sem dôr
minhas saudades de rosa

some day
I will paint painlessly
my regrets in pink

 

17

 
descer às poutas da nada
pra dizer nada
entre a nada

descending to the claws of the naught
to say nothing
among the naught

 

18
 
 
nossos desejos
andam céleres
por talos de papoula

our wishes
run quickly
along poppy stems

 

19

   
o sol pôs solene
óculos de sol
escondendo os olhos

the sun solemnly
wore sunglasses
while hiding its eyes

 

20


 
os amigos na palma
como o pão
alimentam em branco

the friends on the palm
as bread
feed in white

 

21

 
 
lembra sempre
esses dedos céleres
que foram rios

remember forever
those quick fingers
that were rivers

 
22

   
a lua laranja
por mentes choradas
e solitárias

the orange moon
along cried and lonely
minds

 


23


  
e fecho os olhos
para não te ver já mais
mas és aroma

and I close my eyes
not to see you anylonger
but you are scent

 

24


onde te devo
enviar com um selo
o adeus derradeiro?

where shall I send you
with a stamp
my last farewell?

 
25

 
aquelas bestas de pó
que nos contemplavam
tornaram-se reais

those dust beasts
watching at us
became all real

 
26
 
 
se te beijar
o rio, o luar, a impaciência
lembra-me

if I kissed
your river, your moonlight, your impatience,
remember me

 
27


  não procures
agendas na maré
pra anotar o esqueço

don’t look for
plannings on the tide
to write down oblivions

 
28

 
  fui teu no vôo
foste minha sem distância
foi... fomos tudo

I was yours in your flight
you were mine without distance
it was... we were everything

 
29

 
  não dissimules
o inverno da tua cabeça
com florestas

don’t hide
the winter on your head
with forests

 

30

  
procuravas como
tantas vezes
um xarope de versos

you were seeking
as usually
a syrup of verses

 
31
 
as tuas mãos
entreabertas sobre a lua
são a pátria dos druídas

your hands
half-open on the moon
are the homeland of druids


32

    
há um rosio feliz
sobre a minha pele;
respiraste

there is a happy moist
on my skin
you breathed

 

33

 
os teus lábios muito abertos
e o sol do verão
cabe todo

your lips utterly open
and the summer sun
everything fits in

 
34


  
começar bêbedo
com a fim
de um adeus todo silêncio

 starting drunk
with the end
of a broadly silent farewell
 
 
35

quem disser que hoje
é liberdade
quer-te gaivota nas mãos

who may say that today
is freedom
wants you to be seagulls among their hands

 

36


a chuva vai
a tarde vai
lentas porque bebem teus passos

the rain goes
the evening goes
slowly because they drink your steps


37

ocaso do verão
o céu é um caixão
de esperanças

summer sunset
the sky is a drawer
full of hopes

38

as tuas costas despidas
e eu navego-te
a memória

your naked back
and I’m saling you
by heart

39

luares, beijos,
estrelas, carências, prantos...
borboleta apagada

moonlights, kisses,
stars, lacks, weepings,
turned off butterfly

40

dormir beijando-te
queixas dos lençois
busca respostas

sleeping while kissing you
complaints of the bed sheets
search of responses

41

a pedra até então
tão calada
nem mostrara o pranto

the stone up to then
so silent
did not even show its crying

42

magia de bruxas
percorrer-te em noite celta
ser-te druida

witches’ magics
travelling you in a Celtic night
being your druid

43

a caixa vermelha
com sabor de Oriente
sinto al-Qods

the red Box
tasting of the East
I feel Al-Qods

44

o grande segredo
vem cada maré,
sem ser secreto

the great secret
comes with every tide
without being a secret

45

faltam palavras
pomos as mãos no silêncio
são violinos

words are missing
we put our hands on silence
they are fiddles


46

a vaidade põe gravata
roda pela erva
tem instintos

vanity wears a necktie
rolls on the grass
has instincts

47

todas as marés
concorrem sempre
aos teus olhos

all tides
always come up
to your eyes

48

e sentir-te rir
é te sentir amêndoas
a florescer

and feeling you laugh
means feeling blooming
almonds

49

disseste:
voz, mãos e olhos,
é o último alento duma estrela

you said:
voice, hands and eyes
it’s the last breath of a star

50

no fundo do teclado
jazem as cócegas
duma voz de adolescência

in the bottom of the keyboard
the tickling of a voice
of adolescence lie

51

chega o outono,
despido e  despindo-te
de folhas verbas

the autumn comes
naked and naking you
with green words

52

nos teus olhos corre mar
não posso
temer a maré

the sea runs in your eyes
I can’t
be afraid of the tide

© Xavier Frías Conde
All rights reserved worlwide