_______________________________________________
I
o silêncio
sempre o silêncio
a replicar
na gorja
como um déspota
esta manhã
nem és rua
nem és alva
silêncio
descalça
II
retorno dum exílio
impreciso
um exílio
de mim mesmo
de manhã
para partir
rua avante
num círculo
de marés que me matam
e ressuscitam
e de tarde
perder o nome
outra vez
esse
que às vezes
nem lembro
III
não estás
a tua silueta
ainda aconchega
na minha consciência
não estás
vais embora
com o sabor
do café às escondidas
não estás
até a tristeza
hoje
me acarinha
IV
a rua repite
silêncios
tenho-os tão ouvidos
silêncios
de nome partido
rochas baixo a língua
a ferver
mais
e mais
ausência
V
se tiver
bússolas
procuraria
teus dedos
tentaria
matar este inverno
descendo
a tua olhada
e de repente
janeiro
que nem aboia
no anel
do fundo
do café
VI
tardes de sábado
sem areias
onde deixar
sílabas
estreladas
inverno em infância
lento
sem lumes esta vez
onde pôr
teu nome a aquecer
mais uma vez
VII
pele
de deusa
o inferno
está tecido do teu silêncio
por que tanto lembrar-te...
VIII
fugiu espido
o telefone
nem um adeus furtivo
nada
parecia que temesse
que eu quisesse perceber os seus olhos
talvez ainda
amanheça morto
como uma praia
farrapenta de trevas
uma vez
que também
esqueceu despedidas
© Xavier Frías Conde
All rights reserved worlwide
Sem comentários:
Enviar um comentário