sexta-feira, maio 15, 2015

UM DIA SEM CHUVA

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Inspirado na mais formosa canção
da cantora Enya: A Day Without Rain


um dia
sem chuva

tu
já não és
tu

nem 
eu sou
eu

as tuas derradeiras sílabas
ainda flutuam algures entre pianos
talvez nuas
como naquele dia
de fumos rotos

um dia
sem chuva

será por isso
que sempre
te recordo molhada

Frantz Ferentz, 2015

NO FIM DA RUA

Resultado de imagen de nakonec uliceesta manhã cedo vi a mátria partir por debaixo da minha janela - soube que ia ao exílio de primavera - apenas levava consigo fotos da língua e da terra - murmurava paisagens mortas entre os dentes pois os seus braços sustinham os últimos pós - tentei despedir-me dela - mas para quê - ela já não era - já não era de nós a mátria - caminhava devagar pela rua deserta a respeitar religiosamente os carris do elétrico - desejei que chovesse para borrar a sua tristeza - desejei lavá-la como se lava uma mulher nua com sabão e ainda dizer-lhe ternuras - mas não o fiz e ela foi embora - eu olhava para ela sempre desde a janela - ninguém pareceu dar conta


© Frantz Ferentz, 2015

AO PÉ DA RIA (AVEIRO)

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a tua voz afinal rota

é normal
foi uma noite longa
emoções álcool suspiros confidências
em velhas -talvez invisíveis- caixas de música
 
amanhece
banhas os pés nas águas da ria

silhueta preta
fado impertinente em aliança com o café
até conseguir repovoar as tuas veias

a indisciplina escorrega-te' pela pele  
é então quando te comportas como uma deusa imponente
pronunciando palavras
que ficam

à alva
os faróis tornam sonolentos para casa
e tu
como sempre
à sua espera


Frantz Ferentz, 2015