esta manhã cedo vi a mátria partir por debaixo da minha janela - soube que ia ao exílio de primavera - apenas levava consigo fotos da língua e da terra - murmurava paisagens mortas entre os dentes pois os seus braços sustinham os últimos pós - tentei despedir-me dela - mas para quê - ela já não era - já não era de nós a mátria - caminhava devagar pela rua deserta a respeitar religiosamente os carris do elétrico - desejei que chovesse para borrar a sua tristeza - desejei lavá-la como se lava uma mulher nua com sabão e ainda dizer-lhe ternuras - mas não o fiz e ela foi embora - eu olhava para ela sempre desde a janela - ninguém pareceu dar conta
© Frantz Ferentz, 2015
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