<1>
declarou-se destripador
de estrelas
por covarde
por não ousar
destripar soidades
porém
as suas tripas correm
noite abaixo
fugendo pontes
sem reflexos
jurando
anceiando
tanta tinta
que acariciava
<2>
quero ver-te
enroupada na baranda
e o porto
às tuas costas
gosto de ver-te sorrir
quando os teus óculos de sol fazem piadas
e a brisa retoma o tempo
percorrendo o teu cabelo
nem o inverno
é inverno
quando o mar me sussurras
ali
na baranda do porto
pensando silhuetas
<3>
bêbedo
das tuas coxas
mais uma noite
primavera
ou uma estação por inventar
nos vértices
de tantas bocas
<4>
és linda
muito linda
desculpa
não fomos apresentados
dizia...
és linda
muito linda
embora nunca te conheça
<5>
apenas quando adormeces
existe em ti
um recanto
o bairro das luzes
onde mora
o indezível
e fazes confluir
o Tejo com Praga
o Moldava com Lisboa
apenas quando adormeces
existe em ti
o bairro das luzes
boca de humidades
mapa de carícias
e praias
lentamente anceiadas
<6>
escreve-me
queres que che escreva
absurda e vaidosa
quando és apenas
uma nódoa
no meu guardanapo
sem forma
nem rima
escreve-me, insistes
deixo a conta sem pagar
vou embora
<7>
ignorava
que os esqueletos
dançassem
pensei que
eram vozes frustradas
caramelos cuspidos
ou ligações para o absurdo
até que te conheci
então percebi
ossos envejosos
até da pelelha resseca dum tambor
como pode a morte
tentar espelhar-se
nos lábios do mar
e acreditar
que ainda nalgures
lhe mora beleza
não é por caso
que te chames dores
enquanto inerme aguardas
que floreçam as falanges
do teu mais anónimo
inverno
inverno
<8>
à noite
na ponta das dedas
tu
sempre menina
fora chove
miudinho
para não acordares
dorme
miudinha
© Xavier Frías Conde 2011
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