segunda-feira, agosto 31, 2020

SÍLABAS IMPROVISADAS (PT/ES)

 


Ao meu pai

nem esperaste mais
pela hora da luz
pois a luz já era
faz tempo
mais do que uma morada de alentos

tu
por enquanto
já tinhas decidido
soprar-me um arco-da-velha
e falar
nessa língua que nunca falaras
e subir
até onde nunca subiras

lembranças da infância
que chegam ao final do princípio
uma mão -a tua-
que nunca cessou
um alento
que sempre flutua
por atrás das pálpebras
nós os dois cúmplices
que resolvemos partilhar
entre as sílabas improvisadas
de filho e pai

e só te digo
até breve
pai


ni esperaste más
la hora de la luz
pues la luz ya era
desde hace tiempo 
más que una morada de alientos

mientras
ya habías decidido
soplarme un arcoíris
y hablar
en esa lengua que nunca hablaste
y subir
donde nunca subiste

recuerdos de infancia
que llegan al final del principio
   una mano -la tuya-
que nunca cesó
   un aliento
que siempre flota 
por detrás de los párpados 
   nosotros dos cómplices
que decidimos compartir
entre las sílabas improvisadas 
de hijo y padre

y solo te digo
hasta pronto
    papá

© Frantz Ferentz 27 de agosto de 2020

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