terça-feira, outubro 20, 2015

O ESTRANHO ~ EL EXTRAÑO

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Esta manhã partiste antes da alva. Deixaste as chaves na gaveta e saíste na ponta das dedas pela janela. Fora chovia e ficaram as tuas pegadas sonolentas no passeio. En cima da mesa deixaste as tuas últimas faragulhas de melancolia sobre a minha foto, lá ficou sem tu quereres o rasto ainda húmido dos teus dedos. Pelo resto, nada, foras embora, com o teu silêncio vermelho e os teus óculos de mar de porcelana.  

Levaste contigo todas as confidências, todos os abraços cúmplices, todos os risos de chocolate, todas as cadências das tuas ancas que nunca foram. Levaste contigo até os telefonemas que nunca trocámos. Levaste-me contigo até eu ficar sem mim, sozinho. Tudo numa mala pequena para não esgotar o espaço da tua memória.

No ar flutuava a tua última frase, que, obediente, esperou por mim até acordar e me dizer sussurrando desde nenhuma parte: "És um estranho". Sou um estranho, sim, sou para ti um estranho. Sou o teu mais íntimo estranho. Sou o teu derradeiro estranho. Não te fies dos que não te' sejam estranhos, pois eles te' darão cordura.



Esta mañana te fuiste antes del alba. Dejaste las llaves en el cajón y saliste de puntillas por la ventana. Fuera llovía y se quedaron tus pasos somnolientos en la acera. Encima de la mesa dejaste tus últimas migas de melancolía sobre mi foto, ahí se quedó sin querer el rastro aún húmedo de tus dedos. Por lo demás, nada, te fuiste, con tu silencio rojo y tus gafas de mar de porcelana.

Te llevaste contigo todas las confidencias, todos los abrazos cómplices, todas las risas de chocolate, todas las cadencias de tus caderas que nunca llegaron a ser. Te llevaste contigo hasta las llamadas que nunca intercambiamos. Me llevaste contigo hasta quedarme sin mí, solo. Todo en una maleta pequeña para no agotar el espacio de tu memoria.

En el aire flotaba tu última frase que, obediente, esperó a que yo despereatara para decirme susurrando desde ninguna parte: "Eres un extraño". Soy un extraño, si, soy para ti un extraño. Soy tu más íntimo extraño. Soy tu último extraño. No te fíes de los que no te son extraños, pues ellos te darán cordura.

Frantz Ferentz, 2015

domingo, outubro 18, 2015

CHOVE ~ LLUEVE

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chove
chove lento
chove sem testemunhos
chove ao redor da tua boca
chove
      mas tu não me molhas


llueve
llueve despacio
llueve sin testigos
llueve alrededor de tu boca
llueve
       mas tú no me mojas


Frantz Ferentz, 2015

sábado, outubro 17, 2015

DIA DE ANOS ~ CUMPLEAÑOS


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hoje é o dia de anos de alguém
se calhar o teu
desculpa
tive que vender a minha memória
porque estava ensopada em tristeza
mas apenas a troquei por um café amargo

hoje é o dia de anos de alguém
feliz aniversário
talvez até seja o meu próprio
porém já não tenho almanaque
nem dedos para passar as folhas
nem olhos para ler os números
                  sempre me pareceram ninhos
                  numa colmeia na parede
                  todos calados
                  todos expectantes

hoje é o dia de anos de alguém
nem sei se eu te parabenizei
ou tu me parabenizaste'
não sei saber
nem sei por que tem de haver dias de anos
só sinto que o tempo passeia devagar
apoiado num cajado
sozinho por entre as minha enrugas


hoy es el cumpleaños de alguien
quizás el tuyo
perdona
tuve que vender mi memoria
porque estaba empapada en tristeza
pero solo la troqué por un café amargo

hoy es el cumpleaños de alguien
felicidades
tal vez sea mi propio cumpleaños
pero ya no tengo calendario
ni dedos para pasar las hojas
ni ojos para leer los números
                   siempre me parecieron nidos
                   en una colmena en la pared
                   todos callados
                   todos expectantes

hoy es el cumpleaños de alguien
no sé si te he felicitado
o me has felicitado
no sé saber
ni sé por qué ha de haber cumpleaños
lo único que siento es el tiempo pasear despacio 
apoyado en un bastón
él solo por entre mis arrugas
Frantz Ferentz, 2015

quarta-feira, outubro 14, 2015

NÃO ME APETECE


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hoje não me apetece
escrever tristezas
nem deixá-las escorregar
pelo teclado

hoje não me apetece
engolir tristezas
tristezas doces e amargas
tristezas entre os pousos do café
tristezas enxugadas na almofada
tristezas que embafam a janela

hoje não me apetece
abrir e fechar tristezas
não
não me apetece

hoje apetece-me comprar às tristezas um bilhete
apenas de ida a nenhuma parte

hoje
as tristezas
perderão toda a esperança

Frantz Ferentz, 2015

segunda-feira, outubro 12, 2015

TEU NOME À DERIVA ~ TU NOMBRE A LA DERIVA

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interrupção de planetas
restos de marés entre os lençóis
oráculos sob a almofada

vida em fios        
mulher a céu aberto
outono
               teu nome à deriva


interrupción de planetas
restos de mareas entre las sábanas
oráculos bajo la almohada

vida en hilos         
mujer a la intemperie
otoño 
                 tu nombre a la deriva


Frantz Ferentz, 2015

terça-feira, outubro 06, 2015

YO, ESE INFELIZ ~ EU, ESSE INFELIZ

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yo
ese infeliz
que te saborea
en pequeñas dosis
de tristeza
bajo
la lluvia

eu
esse infeliz
que te saboreia
em pequenas doses
de tristeza
sob
a chuva

Frantz Ferentz, 2015

segunda-feira, outubro 05, 2015

CHUVA NO PÁTIO ~ LLUVIA EN EL PATIO

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Esta manhã choveu e não estavas a meu lado. O pátio amanheceu república arrasada com astros dispersos pelo chão. Não ouvi gritos, nada. Soube que o frio era a tua ausência. Cri que era algum tipo de auto-exílio entre sonhos. 

Esta manhã choveu e não estavas a meu lado. Por vezes consola viver em sonhos e sonhar que não se sonha. Sonhar, por exemplo, que se modifica o ritmo da chuva pronunciando o teu nome. Sonhar que escorregas pela minha boca como sumo de manga e fluis pelo meu corpo abaixo. Sonhar que te sonho.

Esta manhã choveu e não estavas a meu lado. Chegaste e partiste outono. Sonhei que saías do quarto na ponta das dedas. Sonhei que deixavas a conca de café na mesa e ias embora sem prová-lo. Sonhei pranto e quis reescrever os meus sonhos, mas não tinha a tua pele para reescrevê-los, reescrever-te'.

Esta manhã choveu e não estavas a meu lado. Não estavas nem nos meus sonhos. Não estavas. Trás os vidros do pátio, eu dissipava-me, tu já não chovias.


Esta mañana ha llovido y no estabas a mi lado. El patio ha amanecido república arrasada con astros dispersos por el suelo. No he oído gritos, nada. Supe que el frío era tu ausencia. Creí que era algún tipo de autoexilio entre sueños. 

Esta mañana ha llovido y no estabas a mi lado. A veces consuela vivir en sueños y soñar que no se sueña. Soñar, por ejemplo, que se modifica el ritmo de la lluvia pronunciando tu nombre. Soñar que resbalas por mi boca como zumo de mango y fluyes por mi cuerpo abajo. Soñar que te sueño.

Esta mañana ha llovido y no estabas a mi lado. Llegaste y te fuiste otoño. Soñé que salías de puntillas de mi cuarto. Soñé que dejabas la taza de café en la mesa y te ibas sin probarlo. Soñé llanto y quise reescribir mis sueños, pero no tenía tu piel para reescribirlos, reescribirte.

Esta mañana ha llovido y no estabas a mi lado. No estabas ni en mis sueños. No estabas. Tras los vidrios del patio, yo me disipaba, tú ya no llovías.

Frantz Ferentz, 2015

domingo, outubro 04, 2015

TEN THOUSAND INSTANTS LATER

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I finally realize
all is nothing
and I belong
to a blank of silences

I finally realize
I am no longer
a shadow
but a sad shadow

Frantz Ferentz, 2015

quinta-feira, outubro 01, 2015

MOJÁ LAS CADERAS ~ MOLHA AS ANCAS


mojá
las caderas en mi atlántico recién despertado
y olvidá
esa tontería
de que las montañas no lloran
ni son coquetas
y que nunca
se les va la mano con la cerveza

ahora vos sos un volcán
a nivel de mi cama

molha 
as tuas ancas no meu atlântico recém acordado
e esquece
essa parvada que diz
que as montanhas não choram
nem são coquetas
e que nunca
abusam da cerveja

agora tu és um vulcão
ao nível da minha cama


Frantz Ferentz, 2015