A Rafa Yáñez,
Alberto G. Bautista
e Ricardo Pichel
pela grandeza da amizade
há terras que são hostis porque nasceram para sê-lo. nelas crescem homens que são hostis porque nasceram dessa terra e têm pó na cabeça. e são ainda mais hostis com aqueles que não caminham levantando poeira, a sua, a que os alimenta. e à poeira chamam pátria.
quando eu lá cheguei pensaram que também levantava poeira ao falar, mas não, era apenas o eco das minhas palavras. os homens hostis, o da pátria de pós, quiseram tornar-me poeira, como eles.
e fugi.
pensei nunca mais olhar para trás. perguntei-me como se odiava o pó. mas há pós que ultrapassam cérebros e corpos. e soube que nem todos os pós são iguais. há pós que não querem ser poeira.
conheci então pós exiliados. pós famintos e sorridentes. conheci o valor de escrever com o dedo no pó sem ser incomodado por regras de cozinha aplicadas à escrita daquilo que ninguém tem certeza que exista.
e fiquei
fiquei exiliado onde não há exílio. vivo entre pós que sabem de carícias. não são de homens. nem de pátrias. são pós e não são. mas gosto. gosto de pós que viajam com sirocos e nunca possuem uma terra. e são.
Frantz Ferentz, 2014